Tokenização de ativos digitais no Brasil: B3, regulação e o ecossistema em evolução

Tokenização de ativos digitais no Brasil: B3, regulação e o ecossistema em evolução

A tokenização de ativos digitais está moldando o futuro dos mercados brasileiros. A tokenização de ativos digitais, cada vez mais integrada aos sistemas financeiros tradicionais, promete ampliar a eficiência, reduzir custos e abrir novas oportunidades de investimento. No Brasil, a B3 está na linha de frente desse movimento ao combinar tecnologia inspirada no Bitcoin com uma arquitetura moderna de registro distribuído. Ao mesmo tempo, a discussão regulatória avança com propostas de sandbox regulatório para testes seguros e escaláveis. Este artigo explica como essas mudanças acontecem, quais são os caminhos para investimento e quais lições podemos extrair para o ecossistema financeiro brasileiro como um todo.

1. O que é tokenização de ativos digitais e por que ela importa

A tokenização de ativos digitais envolve transformar ativos do mundo real — como ações, títulos, imóveis, créditos agrícolas e itens de infraestrutura — em tokens digitais que circulam em redes de registro distribuído. Essa abordagem pode aumentar a liquidez, simplificar a cadeia de custódia, reduzir o tempo de liquidação e facilitar operações 24/7, mesmo fora das janelas tradicionais de negociação. Para leitores iniciantes, pense na tokenização como um modo de criar “versões digitais” de ativos reais que podem ser compradas, vendidas e transferidas com a mesma segurança de um livro‑razão abrangente, porém com transparência, rastreabilidade e eficiência tecnológica superiores.

No Brasil, esse movimento ganha corpo em três frentes principais: (1) a modernização da infraestrutura de registro e liquidação via tecnologia de registro distribuído (DLT), com base em inspirações do ecossistema de Bitcoin; (2) a integração de ativos tokenizados com instrumentos tradicionais, como stablecoins e CBDCs, para uso em liquidação e pagamentos; e (3) a construção de um ambiente regulatório que equilibra inovação e proteção ao investidor, com sandbox regulatório e padrões de governança robustos.

2. A B3 e a tokenização de ativos: inovação com foco na prática

A B3, bolsa de valores do Brasil, está avançando na modernização de sua central depositária por meio de uma arquitetura baseada em tecnologia de registro distribuído. O objetivo é viabilizar a tokenização de ativos reais (RWA) e sustentar operações mais eficientes, com menor latência e disponibilidade quase 24/7. Entre os pontos-chave do projeto estão:

  • Adotar tecnologia inspirada no Bitcoin para registrar ativos de forma segura e resistente.
  • Migrar para a nuvem e redesenhar a arquitetura de liquidação em microsserviços para aumentar escalabilidade e resiliência.
  • Permitir negociações contínuas, com liquidação que pode ocorrer sem depender de horários tradicionais de pregão.
  • Promover a integração entre o sistema financeiro tradicional e o ecossistema de ativos digitais, abrindo portas para operações com stablecoins, CBDCs e tokens lastreados em ativos reais.
  • Trabalhar com parcerias estratégicas — Oracle, Microsoft e Vermiculus — para redesenhar sistemas de custódia, liquidação e interoperabilidade entre plataformas.

Segundo Rodrigo Nardoni, vice‑presidente de tecnologia da B3, o objetivo é preparar a bolsa para atender às novas demandas de um mercado que opera 24/7, com volumes crescentes e maior sofisticação. Ele reforça que a revolução tecnológica não está apenas na tecnologia em si, mas na capacidade de entrega confiável de serviços determinísticos — especialmente em operações críticas de negociação e liquidação. Em outras palavras, a inovação precisa trazer resultados previsíveis e seguros para investidores institucionais e varejo.

O cronograma e as fases da transformação

A atualização tecnológica da B3 está estruturada em três fases, com a fase crítica prevista para 2026, quando a nova infraestrutura deverá operar de forma autônoma. Enquanto isso, o sistema atual continua funcionando como suporte, atuando como backup até a desativação gradual. O foco é migrar para uma arquitetura que ofereça maior agilidade, menos dependência de intermediários tradicionais e maior capacidade de suportar a tokenização de ativos reais.

Entre os resultados esperados, destacam‑se:

  • Latência significativamente menor nas transações, com avanços de 1,2 milissegundos em 2023 para patamares projetados de 150–250 microssegundos na nova era, dependendo das operações.
  • Integração com ativos digitais, inclusive com a possibilidade de operar com stablecoins e CBDCs em liquidações, o que reduz a dependência de infraestrutura tradicional de compensação.
  • Abertura para novas classes de ativos tokenizados, como ações, cotas de fundos, títulos de crédito e ativos imobiliários, ampliando o leque de investimentos disponíveis para o mercado brasileiro.

Essa transformação não é apenas tecnológica. Ela sinaliza uma mudança de paradigma: o mercado financeiro brasileiro se prepara para um ecossistema no qual ativos do mundo real ganham representações digitais com mecanismos de governança, auditoria e conformidade mais robustos, capazes de suportar operações de alto volume e alta frequência, com maior transparência para investidores e reguladores.

3. Regulação, sandbox e o caminho para a segurança jurídica

A evolução do ecossistema de tokenização de ativos digitais depende fortemente de um ambiente regulatório estável e previsível. A ABToken, Associação Brasileira de Tokenização e Ativos Digitais, defende a criação de um sandbox regulatório pelo Banco Central do Brasil (BC) para fortalecer negociações OTC, com regras de governança, segregação de ativos dos clientes e compliance bem definidas. A ideia central é permitir que empresas testem produtos, serviços e modelos de negócios inovadores sob supervisão, sem exigir, de imediato, o cumprimento integral de todas as normas. Esse modelo busca equilibrar inovação e segurança, reduzindo riscos operacionais e abrindo espaço para soluções mais eficientes e escaláveis no futuro.

Entre os pontos defendidos pela ABToken, destacam‑se:

  • Sandbox regulatório específico para criptoativos, como um ambiente controlado para desenvolvimento e testes de produtos inovadores.
  • Colaboração com bancos, fintechs, OTCs, escritórios de advocacia e exchanges para acelerar a padronização do mercado.
  • Plano de apresentação ao BC em janeiro de 2026, com parcerias já estabelecidas para viabilizar as iniciativas regulatórias e operacionais.

Regina Pedroso, diretora‑executiva da ABToken, enfatiza que a regulação é crucial para aumentar a segurança jurídica, permitindo que as empresas inovem com confiança. Ela ressalta que um ambiente regulado, com supervisão adequada, facilita a escalabilidade tecnológica e a confiança dos investidores, especialmente em operações OTC que hoje demandam maior padronização e transparência.

Esse movimento de sandbox não é apenas uma demanda local. Ele se insere em um movimento global de modernização de bolsas e mercados, que envolve uso de APIs modulares, serviços em nuvem e DLT para serviços de custódia e liquidação. A visão é que, ao criar regras claras e mecanismos de supervisão eficientes, o Brasil possa manter a competitividade de suas capitais com mercados internacionais, como CME Group e Eurex, sem abrir mão da proteção aos investidores.

4. Impactos práticos: o que isso significa para empresas, investidores e para o dia a dia do mercado

Para investidores e participantes do mercado, a tokenização de ativos digitais e a nova infraestrutura da B3 prometem ganhos tangíveis, tais como:

  • Maior liquidez para ativos tradicionalmente pouco líquidos, através de tokens que facilitam transferência e negociação em plataformas integradas.
  • Liquidação mais rápida e previsível, com redução de dependência de intermediários, o que pode reduzir custos e ampliar a velocidade de operações.
  • Maior segurança e transparência, com evidências de trilhas de auditoria e governança robusta proporcionadas pela DLT.
  • Integração entre ativos físicos e digitais, abrindo caminho para novos modelos de financiamento, como títulos tokenizados de crédito rural, imóveis tokenizados e fundos tokenizados.
  • O ecossistema regulatório mais claro, com sandbox regulatório para testes e padrões de compliance, ajudando a reduzir incertezas para negócios inovadores.

Entretanto, há desafios. A transição envolve ajustes tecnológicos, migração de sistemas legados, gestão de riscos de obsolescência, além de a regulação acompanhar o ritmo da inovação. Investidores e empresas precisam manter uma mentalidade de aprendizado contínuo, buscando soluções que equilibrem velocidade de entrega com segurança jurídica e operacional. O que vemos, porém, é uma trajetória que tende a favorecer a participação institucional, reduzir assimetrias de informação e ampliar o ecossistema de financiamento para ativos reais por meio de instrumentos digitais bem estruturados.

5. Um olhar estratégico sobre o ecossistema: aprendizados e caminhos para o futuro

Convergindo as informações apresentadas, algumas lições estratégicas aparecem de forma clara:

  • Inovação tecnológica precisa de alicerce regulatório sólido. O investimento em DLT e na tokenização de ativos só se consolida quando há governança, conformidade e supervisão adequadas.
  • A modernização da infraestrutura financeira brasileira não é apenas sobre tecnologia, mas sobre integração. A capacidade de unir o mercado tradicional aos ecossistemas de ativos digitais abre portas para novas classes de ativos, como RWA (real‑world assets) e instrumentos interligados a CBDCs e stablecoins.
  • A colaboração entre setores — bolsas, bancos, fintechs, reguladores e provedores de tecnologia — é essencial para criar soluções escaláveis e seguras. Parcerias com gigantes de tecnologia e provedores de nuvem ajudam a acelerar a transformação, desde a infraestrutura de liquidação até a experiência do investidor.
  • A visão de longo prazo envolve aceitar cenários com alta incerteza e manter flexibilidade. Não existe uma única resposta para quais ativos digitais vencerão; o sucesso depende da capacidade de adaptação e da qualidade da governança.

6. Perguntas Frequentes (FAQ)

O que é tokenização de ativos digitais?

É o processo de transformar ativos do mundo real em tokens digitais que rodam em redes de registro distribuído, facilitando negociação, liquidação e rastreabilidade com maior eficiência.

Qual é o papel da B3 na tokenização de ativos no Brasil?

A B3 está modernizando sua central depositária com DLT, criando infraestrutura para tokenizar ativos reais (RWA) e suportar negociações 24/7, com integrações a stablecoins e CBDCs.

O que é um sandbox regulatório e por que ele importa?

É um ambiente controlado onde empresas podem testar produtos e serviços inovadores com supervisão regulatória, reduzindo riscos enquanto se cria padrões de governança e conformidade para o ecossistema.

Quais os benefícios da tokenização para investidores?

Maior liquidez, liquidação mais rápida, menor dependência de intermediários, maior transparência e acesso a novas classes de ativos tokenizados.

Quais são os desafios dessa transformação?

Desafios incluem migração de sistemas legados, gerenciamento de riscos, necessidade de governança sólida, e a necessidade de regulação que acompanhe a rapidez da inovação sem deixar de proteger investidores.

7. Conclusão: refletir, agir e avançar

A trajetória da tokenização de ativos digitais no Brasil é marcada por uma combinação de visão de futuro, inovação tecnológica e responsabilidade regulatória. A B3 está pavimentando o caminho ao modernizar infraestruturas, reduzir latência e abrir espaço para ativos reais tokenizados. Ao mesmo tempo, o debate regulatório, impulsionado pela ABToken e por outras vozes importantes, busca criar um ecossistema seguro e escalável por meio de sandbox regulatório, governança clara e compliance robusto. O resultado esperado é um mercado mais eficiente, mais transparente e mais inclusivo, capaz de conectar investidores a uma gama maior de ativos, desde ações até créditos agrícolas e imóveis tokenizados.

Nesse contexto, a mensagem central é simples: a inovação deve andar de mãos dadas com a responsabilidade. Ao investirmos tempo em entender as novas estruturas, promover a padronização, e apoiar políticas públicas que incentivem a inovação responsável, criamos as condições para que o Brasil participe ativamente da revolução da tokenização de ativos digitais. O futuro dos mercados não é apenas mais rápido; é mais inclusivo, mais resiliente e mais inteligente quando cada participante atua com governança, transparência e coragem para experimentar com prudência.

Se você quer acompanhar essa transformação, mantenha-se informado sobre as iniciativas da B3, participe de discussões sobre sandbox regulatório e procure entender como a tokenização de ativos digitais pode impactar seus investimentos e seus negócios. O ecossistema está em construção — e cada passo alinhado a princípios de responsabilidade pode se transformar em novas oportunidades de valor para pessoas, empresas e o país como um todo.

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